O Orbe de Reidhas, Spin-off #1 | Capítulo II

 
p.s. esse é o Theo. As imagens são fucking aleatórias.






II


Christopher Fairmount leu a carta e em seguida queimou com um fósforo. Assistiu as chamas subirem e consumirem o papel calmamente. Quando chegou perto de seus dedos, deixou o papel cair no assoalho poeirento e terminou de ver a queima.
Aquela carta dizia que a Academia não custearia suas invenções mais, alegando baixo rendimento, aliás, rendimento nenhum.

Ele riu sem graça alguma. Eles até demoraram a enviar tal carta.
Depois que as chamas levaram o papel, ele espalhou as cinzas com seus sapatos. Foi até uma mesa e pegou seu paletó escuro. Sacudiu o pó e vestiu-o.
Chris fechou sua loja mais cedo naquele dia, o movimento caía cada vez mais. Morava ali mesmo, no fundo, entre engrenagens minúsculas de relógios e as peças de seus inventos.
Saiu, para espairecer. No começo, quando ele era mais jovem, tinha vigor e a herança do pai, comprou a loja e abriu uma relojoaria de reparo. Rapidamente conseguiu clientes demais, e até dispensava alguns. Mas o tempo passou – quinze anos, se lembrava – e tudo se modernizou em Rhenium Valley. Dúzias de outras lojas de reparo apareceram, e todos abandonaram o velho Fairmount.
Parou e coçou o queixo, barba por fazer.
Não era velho. Não tinha quarenta ainda. Aliás, estava longe dos quarenta, tinha trinta e cinco. Ou trinta e seis? Esquecera.
Chris passava os finais de semana inventando coisas. Algumas deram certo, como um novo mecanismo para relógios, que se tornou padrão. Aquela história sempre retornava à sua mente com amargor.
Ele mal tinha vinte e dois anos naquela época, e um dos Mestres da Academia Aurum viu potencial no invento de Chris. Ristevski, aquele nome nunca saía da mente dele, Ristevski. Disse para que ele lhe vendesse a patente do produto, e que lhe conseguiria, além do dinheiro da venda, uma gorda bolsa de pesquisa.
O homem não mentiu, Chris realmente recebeu o dinheiro da patente e da pesquisa. Mas logo o homem lançou o novo mecanismo como se fosse dele. Aliás, colocou o nome da coisa de Mecanismo Ristevski. Ninguém nunca saberia que foi Christopher Fairmount o verdadeiro criador da obra. Ninguém nunca soube.
Chris bebeu todo o dinheiro que recebeu ao ver as notícias nos jornais, e pessoas indo à sua loja e perguntando se ele consertava relógios com aquele novo mecanismo. Aquele que ele inventara, e conhecia como a palma da mão.
Logo viu que vendera a patente por menos de um décimo do que realmente valia, e isso o deixou desequilibrado, sem muita vontade de viver. Até tentou suicídio uma vez, que falhou. Não tinha pais, e nenhuma mulher se interessava por ele além de meretrizes.
Mas ainda recebia o dinheiro da pesquisa. Viveu dele por alguns meses, sem abrir sua loja. Dedicava-se à oficina dos fundos, onde dormia, e a outras invenções. Voltou a abrir a loja quando se reanimou e viu que seu novo projeto seria um completo sucesso.
Mas estava inacabado. Faltava uma coisa, apenas uma.
Pensava naquele projeto agora. Já cruzara a cidade toda e estava na margem do rio Ruby, que já foi mais limpo. Chris não sabia por qual motivo gostava de olhar a água escura e fétida, mas gostava. Sentou-se na beira da estrada sem se preocupar em sujar a roupa. Coçou a cabeça, avaliando o comprimento dos fios. Uns eram castanhos e outros eram prematuramente brancos. Estavam grandes e desalinhados, deveria visitar o velho Joe, que cortava seu cabelo desde que era um rapaz com cinco fios de barba no rosto.
Seu pensamento voltou ao projeto e os olhos cor de mel voltaram ao rio.
Ele os chamava autômatos. Eram bonecos de metal, com articulações elaboradas e complexas. Seguiam uma programação de válvulas e cartões, e faziam tudo que tais cartões diziam para fazer. Ou pelo menos fariam, Chris não ainda não conseguia fazê-los funcionar.
Faltava algo, uma fonte de energia. Tentou vapor, eletricidade, combustíveis fósseis. Tentou tudo que conseguia comprar com o recurso da Academia. Chegou a economizar em roupas e sapatos para conseguir mais dinheiro.
Só queria dar vida às suas crianças de metal, já que não teria filhos naturais.
E seu sonho se foi, queimado naquela carta infeliz.
Pela milésima vez pensou que ao invés de comprar a loja, deveria ter usado a herança do pai para estudar na Academia, assim pelo menos seria um engenheiro formado, não um relojoeiro simplório e gênio fracassado nas horas vagas. E pela milésima vez concluiu que não nasceu para seguir fórmulas prontas, e sim para criá-las.
Criar maravilhas e não ser reconhecido por elas.
Riu novamente, sem graça. Sua vontade era de se atirar no rio e deixar a corrente levá-lo e afogar seus problemas. Havia pedras grandes ali, poderia encher os bolsos com elas e dificultar seu instinto de nadar e se salvar.
Não moveu um músculo, nem para encher os bolsos de pedras e nem para se atirar no rio. Era covarde o suficiente para não tirar a própria vida, por mais miserável que fosse.
Levantou. Sem o dinheiro que o sustentava, deveria trabalhar feito homem, braçalmente. Sabia alguns ofícios. O pai era marceneiro. Podia consertar aparelhos elétricos e conhecia o Morse de telégrafo. Conhecia tantas coisas, como se reduzira a aquele lixo humano?
As crianças.
Largava tudo por elas, seus Autômatos, seus filhos, seu sonho. Mas era hora de mudar aquela realidade. Evoluir.
Olhou o céu cinza daquela tarde de primavera, e jurou que mudaria. Que tudo mudaria.
E se havia um Deus, ele estava disposto a ajudá-lo. Muito disposto.
Começou com um ponto pequeno e brilhante no cinza. Chris franziu o cenho e tentou focá-lo. O ponto aumentou, e aumentou. A velocidade era maior e ele levou dois segundos para concluir que era um objeto em queda livre.
A coisa brilhante passou pelos seus olhos e com um estrondo, chegou ao chão.
Chris correu até a pequena cratera, feliz por encontrar um meteorito legítimo. Poderia vendê-lo caro para algum astrônomo maluco.
Ao chegar à cratera, ele soube de imediato que aquilo não podia ser um meteorito. Em planeta nenhum meteoritos eram tão lapidados, redondos e cristalinos.
Ele tirou o casaco e enrolou na mão, para pegá-lo. Não sentiu o calor do atrito, e tocou-o com a mão nua. Estava frio. Era só uma esfera redonda de cristal, do tamanho de seu punho. No interior havia algo opaco, como fumaça, que girava preguiçosamente e brilhava sutilmente.

E com certeza, aquilo valia mais que um meteorito.







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Chris, seu fodido <333333333333333

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Lembrando os pdf's tem uma imagem diferente e o primeiro tem a Apresentação :3


até a próxima minha gente.

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