Christopher
Fairmount leu a carta
e em seguida queimou com um fósforo. Assistiu as chamas subirem e consumirem o
papel calmamente. Quando chegou perto de seus dedos, deixou o papel cair no
assoalho poeirento e terminou de ver a queima.
Aquela
carta dizia que a Academia não custearia suas invenções mais, alegando baixo
rendimento, aliás, rendimento nenhum.
Ele
riu sem graça alguma. Eles até demoraram a enviar tal carta.
Depois
que as chamas levaram o papel, ele espalhou as cinzas com seus sapatos. Foi até
uma mesa e pegou seu paletó escuro. Sacudiu o pó e vestiu-o.
Chris
fechou sua loja mais cedo naquele dia, o movimento caía cada vez mais. Morava
ali mesmo, no fundo, entre engrenagens minúsculas de relógios e as peças de
seus inventos.
Saiu,
para espairecer. No começo, quando ele era mais jovem, tinha vigor e a herança
do pai, comprou a loja e abriu uma relojoaria de reparo. Rapidamente conseguiu
clientes demais, e até dispensava alguns. Mas o tempo passou – quinze anos, se
lembrava – e tudo se modernizou em Rhenium Valley. Dúzias de outras lojas de
reparo apareceram, e todos abandonaram o velho Fairmount.
Parou
e coçou o queixo, barba por fazer.
Não
era velho. Não tinha quarenta ainda. Aliás, estava longe dos quarenta, tinha
trinta e cinco. Ou trinta e seis? Esquecera.
Chris
passava os finais de semana inventando coisas. Algumas deram certo, como um
novo mecanismo para relógios, que se tornou padrão. Aquela história sempre
retornava à sua mente com amargor.
Ele
mal tinha vinte e dois anos naquela época, e um dos Mestres da Academia Aurum
viu potencial no invento de Chris. Ristevski,
aquele nome nunca saía da mente dele, Ristevski. Disse para que ele lhe
vendesse a patente do produto, e que lhe conseguiria, além do dinheiro da
venda, uma gorda bolsa de pesquisa.
O
homem não mentiu, Chris realmente recebeu o dinheiro da patente e da pesquisa.
Mas logo o homem lançou o novo mecanismo como se fosse dele. Aliás, colocou o nome da coisa de Mecanismo Ristevski.
Ninguém nunca saberia que foi Christopher Fairmount o verdadeiro criador da
obra. Ninguém nunca soube.
Chris
bebeu todo o dinheiro que recebeu ao ver as notícias nos jornais, e pessoas
indo à sua loja e perguntando se ele
consertava relógios com aquele novo mecanismo. Aquele que ele inventara, e
conhecia como a palma da mão.
Logo
viu que vendera a patente por menos de um décimo do que realmente valia, e isso
o deixou desequilibrado, sem muita vontade de viver. Até tentou suicídio uma
vez, que falhou. Não tinha pais, e nenhuma mulher se interessava por ele além
de meretrizes.
Mas
ainda recebia o dinheiro da pesquisa. Viveu dele por alguns meses, sem abrir
sua loja. Dedicava-se à oficina dos fundos, onde dormia, e a outras invenções.
Voltou a abrir a loja quando se reanimou e viu que seu novo projeto seria um
completo sucesso.
Mas
estava inacabado. Faltava uma coisa, apenas
uma.
Pensava
naquele projeto agora. Já cruzara a cidade toda e estava na margem do rio Ruby,
que já foi mais limpo. Chris não sabia por qual motivo gostava de olhar a água
escura e fétida, mas gostava. Sentou-se na beira da estrada sem se preocupar em
sujar a roupa. Coçou a cabeça, avaliando o comprimento dos fios. Uns eram
castanhos e outros eram prematuramente brancos. Estavam grandes e desalinhados,
deveria visitar o velho Joe, que cortava seu cabelo desde que era um rapaz com
cinco fios de barba no rosto.
Seu
pensamento voltou ao projeto e os olhos cor de mel voltaram ao rio.
Ele
os chamava autômatos. Eram bonecos de
metal, com articulações elaboradas e complexas. Seguiam uma programação de
válvulas e cartões, e faziam tudo que tais cartões diziam para fazer. Ou pelo
menos fariam, Chris não ainda não conseguia fazê-los funcionar.
Faltava
algo, uma fonte de energia. Tentou vapor, eletricidade, combustíveis fósseis.
Tentou tudo que conseguia comprar com o recurso da Academia. Chegou a
economizar em roupas e sapatos para conseguir mais dinheiro.
Só
queria dar vida às suas crianças de metal, já que não teria filhos naturais.
E
seu sonho se foi, queimado naquela carta infeliz.
Pela
milésima vez pensou que ao invés de comprar a loja, deveria ter usado a herança
do pai para estudar na Academia, assim pelo menos seria um engenheiro formado,
não um relojoeiro simplório e gênio fracassado nas horas vagas. E pela milésima
vez concluiu que não nasceu para seguir fórmulas prontas, e sim para criá-las.
Criar
maravilhas e não ser reconhecido por elas.
Riu
novamente, sem graça. Sua vontade era de se atirar no rio e deixar a corrente
levá-lo e afogar seus problemas. Havia pedras grandes ali, poderia encher os
bolsos com elas e dificultar seu instinto de nadar e se salvar.
Não
moveu um músculo, nem para encher os bolsos de pedras e nem para se atirar no
rio. Era covarde o suficiente para não tirar a própria vida, por mais miserável
que fosse.
Levantou.
Sem o dinheiro que o sustentava, deveria trabalhar feito homem, braçalmente.
Sabia alguns ofícios. O pai era marceneiro. Podia consertar aparelhos elétricos
e conhecia o Morse de telégrafo. Conhecia tantas coisas, como se reduzira a
aquele lixo humano?
As crianças.
Largava
tudo por elas, seus Autômatos, seus filhos, seu sonho. Mas era hora de mudar
aquela realidade. Evoluir.
Olhou
o céu cinza daquela tarde de primavera, e jurou que mudaria. Que tudo mudaria.
E
se havia um Deus, ele estava disposto a ajudá-lo. Muito disposto.
Começou
com um ponto pequeno e brilhante no cinza. Chris franziu o cenho e tentou
focá-lo. O ponto aumentou, e aumentou. A velocidade era maior e ele levou dois
segundos para concluir que era um objeto em queda livre.
A
coisa brilhante passou pelos seus olhos e com um estrondo, chegou ao chão.
Chris
correu até a pequena cratera, feliz por encontrar um meteorito legítimo.
Poderia vendê-lo caro para algum astrônomo maluco.
Ao
chegar à cratera, ele soube de imediato que aquilo não podia ser um meteorito.
Em planeta nenhum meteoritos eram tão lapidados, redondos e cristalinos.
Ele
tirou o casaco e enrolou na mão, para pegá-lo. Não sentiu o calor do atrito, e
tocou-o com a mão nua. Estava frio.
Era só uma esfera redonda de cristal, do tamanho de seu punho. No interior
havia algo opaco, como fumaça, que girava preguiçosamente e brilhava
sutilmente.
E
com certeza, aquilo valia mais que um meteorito.
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Chris, seu fodido <333333333333333
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Lembrando os pdf's tem uma imagem diferente e o primeiro tem a Apresentação :3
até a próxima minha gente.
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