O Orbe de Reidhas, Spin-off #1 | Capítulo XXI


 







Pyro tirou os olhos da janela e encarou Lílian.
Teve uma ideia, e durante a noite, desenvolveu-a. Viu sua irmã aos beijos com Theo, e não sentiu nenhum remorso ao interromper.
— Lyra. – Chamou, e ela veio quase imediatamente.
Pyro ainda achava aquilo um pouco estranho. Ainda tinha algumas cicatrizes que sua irmã lhe causou. Ela já o deixou a um fio de morrer pelo menos três vezes. Eles nunca trocaram mais do que dez palavras antes de se atirarem numa violenta briga. Evitavam-se ao máximo, e há um mês eles agem como se nada disso nunca tivesse acontecido.
Simplesmente começaram a ser irmãos do zero. E agora eram próximos e conversavam banalidades sempre.
Situações extremas mudam as pessoas, Pyro. Lyra ainda passará por uma delas, ainda aprenderá. – sua mãe lhe disse uma vez, olhando pela janela e tocando o ventre. Ela sempre tocava aquele local, como se fosse um lembrete.
E Pyro sabia por que, mas preferiu fingir que nunca soube.
De qualquer modo, Lyra parece ter aprendido.
— Que foi? – ela se aproximou.
— Então. Lembram-se daquele cilindro que o autômato levou? Da possibilidade de haver um na Aurum?
— Sim. – Lílian assentiu.
— Precisamos conferir isso. – Pyro continuou.
— O exército deve ter cercado aquilo tudo, ou movido o cilindro, não? – Lyra questionou.
— Não sei, mas acho pouco provável. A remoção, digo.
— Podemos ir sim, mas e se alguém aparecer, ou nos chamar? – Lílian se apoiou na janela.
— Sós dois de nós vão. O que ficar sustenta cópias mágicas. – ele disse com tom frio.
— Cópias mágicas cansam rápido demais. – Lyra ergueu as sobrancelhas.
— Sim. Por isso sugiro que você fique. – Pyro apontou para Lílian. – a sua constituição mágica é mais forte que a nossa. E você pode criar os clones apenas se sentir alguém aproximar.
— Sim, parece bom. Mas vocês dois juntos…
Eles se encararam. Lílian bem sabia de seus desentendimentos eternos.
— Não se preocupe. Nós nos entendemos agora, não é? – Lyra o fitou.
Sim, claro que sim. Finalmente conseguimos algo em comum além do sangue, não é? Entendemos bem a dor um do outro, aquela que diz respeito às pessoas que cativamos aqui e teremos que deixar…
— É. – ele sorriu.
Lílian abriu um sorriso luminoso, um daqueles que Pyro não via há muito tempo.
— Tão bom saber disso, vocês não tem ideia.
Realmente Pyro não tinha. Lílian também escondia suas cicatrizes das vezes que tentou separar os dois, sem sucesso. Aquela conciliação era algo que ela não esperava ver, mas ansiava.
Lílian sempre tem esperanças que tudo vai acabar bem. Isso vinha de sua linhagem élfica, e Pyro se sentia bem em tê-la por perto.
— Contar aos garotos?
— Sim.
Em poucos minutos todos estavam a par da situação, e ninguém ofereceu objeções.
Lyra beijou Theo e se colocou ao lado do irmão.
— Ficamos invisíveis aqui ou lá?
— Aqui. Eu coloco o feitiço em você, assim podemos nos ver.
— Ah, é?
— Não sabia disso?
Ela riu, sem graça.
Quando uma pessoa deixa outra invisível, o conjurador pode vê-la. Quando dois conjuradores invocam separadamente em si mesmos, um não é capaz de ver o outro. Uma das primeiras coisas que se aprende, e ela não sabia.
Provavelmente dormia nas aulas.
Aulas de Phyreon, como seria possível?
Pyro deixou-a invisível e logo ficou. Ouviu exclamações de Liv, tocou o ombro de Lyra e desapareceram.
Surgiram no meio de um dos pátios. Soldados circulavam por todo lado, guardando o local como se fosse um forte. Também juntavam todo o entulho e retiravam mesas e cadeiras. Pyro ouviu alguém dizer “prédio condenado” e suas sobrancelhas se ergueram.
Simplesmente era injusto que algum daqueles prédios tão belos e firmes precisasse ser derrubado. Aquela escola ainda precisaria de muitas reformas até voltar a ser o que era. Lamentou em silêncio por isso.
Depois puxou sua irmã pela camisa e eles seguiram até o prédio de Desenvolvimento e Pesquisa, onde foram capturados.
Não havia mais entulho, e sim homens por todo lado.
Pyro sussurrou no ouvido da irmã para que eles descessem um andar via Sellphir, e ela o fez.
Na verdade, havia mais dois andares subterrâneos além daquele, Pyro descobriu depois de tocar o chão por um momento, e se reprimiu por não ter sentido isso antes. Achou aquilo no mínimo estranho, e desceu com Lyra até o último nível no subsolo.
Era bem iluminado e bem guardado. Os soldados vestiam roupas diferentes daqueles de cima, negras. E suas armas pareciam melhores. Protegiam algo realmente importante, e os irmãos tentavam achar o que.
Entraram numa sala ampla, que lembrou o laboratório de Amy. Paredes revestidas de chapas de aço, aparelhos estranhos que emitiam chiados e bipes. O ar era denso e estagnado, parecia que não abriam aquele lugar há anos.
Não havia ninguém, só as máquinas, e uma cúpula no centro de tudo. Os fios das máquinas levavam até aquela cúpula, e Pyro chegou mais perto para ver melhor.
Dentro do vidro, havia um cilindro idêntico ao que Pyro vira nas mãos do autômato.
E aquilo só podia ser importante, dada a segurança que tinha em volta.
Olhou Lyra, procurando uma afirmação para o que faria a seguir.




Cat se lembrava de tudo que Nicky lhe dissera. Um monte de coisas que Chris podia fazer com ela ali, naquela mesa mesmo. Havia inúmeras combinações, e Cat fizera alguns cálculos sem querer, obtendo um número muito alto de possibilidades.
Eventualmente ele escolheria um caminho, um que ela talvez tenha pensado à noite.
Isso era tão inconsequente, tão irresponsável. Pareciam dois adolescentes, não adultos. Dois lados de sua mente duelavam sem trégua: A razão, que dizia que deveria parar antes que tudo piorasse ainda mais, e aquele lado negro, que Cat sempre ignorou a vida toda. Aquele lado que dizia a ela para brincar com os garotos na rua ou então fugir para o baile de formatura.
A Razão sempre dissuadia o outro lado com coisas simples. Afinal Cat também amava ficar em casa fazendo contas. Assim era fácil ignorar aquela voz chata e trabalhosa.
Desde ontem a Razão anda em segundo plano. De algum modo aquele beijo fez as coisas mudarem, e ela percebeu o que tinha perdido nesse tempo todo.
Não queria perder mais nada.
Mas se não fizessem nada a respeito daquele autômato, não haveria vida para aproveitar.
Sua mente voltou para a situação depois que Chris mordeu seu pescoço devagar. Sentia um arrepio diferente a cada vez que ele a tocava, cada vez que a barba arranhava a pele cheia de sardas. Cat se sentiu um pouco incomodada com elas. Não tinha tantas, mas sua grande amiga tenente fê-la usar biquíni uma vez. As sardas apareceram e nunca mais saíram. Porém, Chris não parecia se importar. Unia os pontos com os dedos antes de beijá-los.
E ele era muito mais delicado que Nicky disse que poderia ser. Chegava a ser gentil. E isso só era pior. Se antes não conseguia odiá-lo por ter roubado seu primeiro beijo, agora sentia algo diferente, sentia… pelos infernos, estava gostando dele. Começou a desejar que ele tivesse aparecido há no mínimo dez anos, e não agora. E cada suspiro dele… era como… como se ele tivesse alguma dor forte demais, na alma.
E que estivesse usando-a para aliviar essa dor.
Seria isso mesmo?
Talvez sim. Chris estava tão sorridente e de certo modo, despreocupado. Como podia ser tão idiota? Era óbvio que ele escondia o realmente estava sentindo.
Assim que concluiu isso, ele simplesmente parou. Partiu o beijo devagar e se afastou. Olhou-a de cima a baixo e mordeu o lábio, parecia preocupado.
E seus olhos, Cat conseguiu ver finalmente. Aquela dor que cogitou. O desespero, agora estava tudo bem ali, bem visível, claro como solução aquosa de ácido clorídrico.
Chris não estava só arrasado, estava destruído. Ela o fitou, esperando alguma reação.
Não tardou a vir.
— Desculpe. Nem sabia se… você queria mesmo isso.
Creio que seja tarde demais pra dizer isso… – ela pensou.
— Somos adultos, Chris. Não precisa pensar assim.
— Só acho que não está certo. Que… – ela apoiou as mãos na mesa e deixou a cabeça despencar. – estou usando você pra esquecer meus problemas.
Era o que tinha deduzido, mas ouvir isso da boca dele doeu. A agonia do tom que ele usou, aquilo fez algo apertar em seu peito.
Cat subiu os óculos nariz acima e só então percebeu que não tinha tirado eles. Depois fechou sua blusa sem abotoá-la.
— Eu sei. – respondeu, e ele ergueu os olhos para encará-la. – sei que isso é só pra te aliviar disso tudo.
— Esqueci que você é o gênio daqui. – ele sorriu tristemente.
— E não me importo, não com isso. De algum modo, estou te usando também. Então… não precisa ter medo.
Ela acariciou o rosto dele, sentindo os pelos da barba arranhar a palma de sua mão.
Chris a olhou por um bom tempo, indecifrável, sem piscar. Havia pequenos pontos dourados nos olhos dele, agora reparou. Alguns dourados, outros até esverdeados. Tentavam estudá-la? Ou ele queria correr dessa vez?
Não, ele não podia fugir mais. Agora era ela que não queria deixá-lo ir.
Cat se inclinou para frente e tomou o rosto dele com as duas mãos. E o beijou. E desta vez ela sentiu algo bem diferente, sentiu todas as emoções dele se anuviarem devagar, todos os músculos relaxarem, todas as defesas caírem. Secou com um dedo a lágrima que desceu pelo olho esquerdo dele e o abraçou com mais força.
Ele a apertou nos braços e tomou seus quadris, mais firme.
E ela só queria que ele se sentisse bem, mais nada.

Chris não sabia dizer há quanto tempo estava naquela sala. Só se deu conta que era noite depois que Cat se levantou e disse que precisava inventar um relatório cheio de termos técnicos e totalmente inconclusivo sobre o que supostamente fez naquele dia.
— A intenção é que o general Johannes Acéfalo McMillan não entenda nada. Não vai ser difícil. – ela riu enquanto ajeitava as mangas da blusa.
Ela estava desgraçadamente feliz, algo que ele invejava ainda.
Lembrou-se de algo relativamente importante, mas não sabia como perguntar. Nunca se preocupou com isso antes, suas meretrizes eram confiáveis. Mas aquele era outro caso bem diferente.
Chris nunca imaginou nada disso na vida, mas não se surpreendia mais, não depois de tudo que viu, e ainda veria.
— Hã, Cat.
— Que foi? – ela lutava com os sapatos.
— Bem. – Chris coçou a cabeça e olhou-a. – Nós brincamos de fazer crianças, sabe.
Ela ergueu o tronco e o olhou com sua expressão abobalhada.
— Ah. – ela se lembrou, como se fosse detalhe. – não posso ter filhos, Chris. Talvez fosse por isso que, sei lá, nunca tentei. – concluiu, sem emoção.
Ele não soube explicar por que sentiu algo estranho. Uma pequena agulha perfurando devagar, no fundo do que restava da sua alma.
Forçou um sorriso.
— Vai ficar ainda? – ela perguntou.
— Sim.
— Certo. Até mais.
Chris virou as costas, as mãos nos bolsos. Ouviu os sapatos dela.
— Cat.
— Sim?
— Quantas pessoas Luce matou?
Ela hesitou.
— Você é um civil, Chris. Não tem que saber.
Ouviu a porta bater em seguida. Fitou a mesa que esteve com ela o dia inteiro. Ainda havia manchas de sangue.
Queria saber até quando teria sangue nas mãos.

●●●

Quando Nicky entrou no quarto, achou Cat deitada em sua cama olhando o teto, sem piscar. Estava com aquele mesmo pijama de flanela azul.
Ela estava pensativa demais, e por um momento Dominique não quis perguntar nada.
Mas sua curiosidade era maior.
— E então, kitten?
Cat não piscou. Ela geralmente fazia isso quando estava trancada em seu mundo de fórmulas e equações.
— Cat. Caaaaaaaaaat. – chamou de novo, e ela se assustou.
— Ah, oi.
— Ah, oi. É isso que você diz, ah, oi. – Nicky cruzou os braços. – pode ir me contando.
Cat corou.
— Eh… por onde eu começo?
— Do começo, gênio.
Cat suspirou e contou tudo que conseguia se lembrar. Mas se demorou em uma parte.
— Destruído. Ele não estava só se sentindo mal, ele estava acabado. – Cat limpou os óculos. – claro que estaria. Querendo ou não, é a invenção dele que está fazendo isso tudo. Eu percebi que ele estava me usando para descontar as frustrações dele um pouco tarde demais, mas não fiquei com raiva nem nada. Era impossível ficar, Nicky. Você tinha que ver a expressão dele. Tive vontade de… sei lá, ajudá-lo de algum modo.
Dominique ergueu as sobrancelhas. Raramente via sua amiga mover um músculo para ajudar outra pessoa, no que quer que fosse.
— Aí ele confirmou o que eu tinha pensado. Disse que estava mesmo me usando, e eu achei que ele até ia embora… então eu disse que não me importava com isso e o beijei. Aí continuamos até anoitecer.
Silêncio. Nicky reparou que ela estava mesmo preocupada com Chris.
— Quando eu estava saindo ele perguntou sobre filhos. E… ele fez uma expressão tão indecifrável quando eu disse que não podia engravidar. Parecia que ele queria ter uma criança dele, e que até nisso fracassou. – ela concluiu com um suspiro.
— Não sabia disso, Cat.
— Nunca te disse? Quando eu tinha espinhas no meio das sardas um médico qualquer falou que eu tenho uma chance em cem mil de ter um bebê. Aí eu disse que era melhor, e que não queria que crianças arruinassem minha carreira científica.
Nicky revirou os olhos.
— Sempre delicada. Você está preocupada com ele, dá pra perceber.
— Queria poder contar sobre… o que o general disse. Sei lá, dar uma chance para ele concertar as coisas.
— Como assim?
— Ele sabe. Ele sabe como parar Luce, o autômato dele. Eu sei disso. Mas ele quer resolver sozinho. Como uma redenção, a última coisa que faria.
— Você diz como se ele fosse se matar em seguida.
— Já tentou antes, não é? Mas creio que isso não. Você sabe, Nicky. Chris será preso por isso de qualquer modo. – Cat encarou a amiga.
Nicky fitou os olhos azuis claros. Esqueceu que falava com Catherine Hemingway, a mente mais brilhante de todo o exército. Não citou nada sobre a pena de Chris, mas óbvio que ela sabia disso.
— Quantos anos? – Cat perguntou em seguida, solene.
— Se não o responsabilizarmos pelas mortes de civis – suspirou – e se ele conseguir o melhor advogado do mundo, e se o juiz estiver de bom humor, setenta e cinco. – disse com pesar. – no pior caso, – engasgou.
Cat não precisou ouvir mais.
Pena de morte.











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não cara, hoje não tem easter egg.


E os jogos começaram \õ/


Well, se você está perdido, gafanhoto, a luz está nessa minha journal do DeviantArt. E, claro, nas imagens escondidas.




Lembrando os pdf's tem uma imagem diferente e o primeiro tem a Apresentação :3


até a próxima minha gente.





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